Uma Janela no Recanto da Argentina – 23/05/2013

 

 

 

 

 

 

por, Maria Rita Sales Régis

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Após 13 dias de sol, brilho e muita luz testemunho agora uma forte chuva com matizes, relâmpagos e trovões.
Recolhi-me ao descanso às 03:30 e acordei às 6 da manhã para escrever.
A chuva se pronunciava, o vento acelerava o ritmo das nuvens, perfilando-as rumo ao leste.
Do 13° andar olho o teto das casas e prédios menores da Rua Sarmiento próximo à Catedral da Virgem de San Nicolás de los Arroyos.
Como no Brasil, as ruas enchem-se de água, sem, entretanto produzir intermináveis engarrafamentos, pelo menos por hora. O horário também não é comprometedor! Muitos estão já nos seus trabalhos e outros tantos ainda em casa.
O céu canta como um tenor. A água agrupada, densa se lança em um mergulho um salto ornamental pelo ar ou pela parede avermelhada dos tijolinhos.
Uma sirene incansável identifica um carro que vagarosamente estaciona de ré.
Um jovem se lança com seu guarda-chuva de metal por cima da enorme poça de água, como um cavaleiro voador. O trânsito agora sim, aumenta, sufoca. Mais pessoas correm e se protegem nas marquises e chove… Assim como a minha alma chora pela despedida de um canto que não conhecia e que agora tomo para mim em algum recanto do meu ser.
São árvores e árvores que circundam sistematicamente organizadas uma grande e bela praça.
Agora o volume de água aumenta e ao longe vejo a silhueta das construções. Lâmpadas dos postes se apagam. O cheiro de terra, asfalto e calor invadem as minhas narinas e vejo o quanto a natureza é inspiradora, robusta e envolvente.
Não sai de mim, mas do cenário bucólico visto desta pequena janela que se abre em um mundo infinito de possibilidades, odores, opções e obstáculos.
Carros ligam o pisca alerta, a chuva aumenta e gotas acariciam minha pele aqui na janela.
Vou, pego mais uma folha para continuar escrevendo, bebendo desta experiência que a chuva me permite ter, daqui, desta pequena janela.
O verde recebe a merecida água e o frescor tão necessário para seu desenvolvimento e perenidade. A chuva não dá trégua, o trânsito caminha agora em um fluxo fluído, mas as pessoas ainda correm em busca de proteção, conforto, segurança.
A água tem uma peculiaridade: corrói sem fazer alarme; desgasta sem confrontar, apenas acariciando as paredes, calhas e telhados.
Invade calçadas, escadas e faz com que as pessoas pensem, calculem antes de se lançarem nas travessias. Metem-se nas juntas dos carros que a lança para os lados freneticamente. E ela reina absoluta nas calçadas, muros, em todas as partes.
As motos se assemelham a mergulhões, se enfiam na água por completo, expondo pernas e roupas impermeáveis à ação da água.
Desta janela vejo um mundo de gente que não aparece, mas que está, assim como nossos sentimentos: nem sempre aparecem, mas roncam como trovões, imperadores do nosso ser.
Perceber, chover, escrever é tudo igual. Há a atração, a contemplação e a conclusão.
A chuva está passando, se aquietando, cumpriu sua missão: mudou, saiu de onde estava, se lançou e lavou, fazendo da cidade um palco nebuloso de situações pitorescas.
Agora com os olhos lavados enxergo melhor por esta pequena janela. Consigo discernir os perfis e silhuetas. Vejo longe por trás das lentes que uso. Vejo mais nesta janela de canto no recanto da Argentina.