SOCIEDADES PASTORALISTAS, SOCIEDADES AGRÁRIAS E A MULHER – 22/11/2012

RESUMO

Discorre sobre a relevância da  sociedade  pastoril  por oferecer melhores condições de sobrevivência, são maiores do que as de caça ou coleta, todavia mais sujeitas às guerras. Possui  sistemas sócio-políticos  centralizados e hierarquizados.  Pensam no futuro e nos bens que deixarão para sua prole.  A supremacia masculina estabelece a participação mínima da mulher no que tange à divisão sexual do trabalho.  A pressão sobre as sociedades mais primitivas cresceu e diminuiu a capacidade produtiva de suas tecnologias e de seu meio ambiente.  Passam de nômades a sedentários.  Surgem as primeiras aldeias, cidades e cidades-estado. Aborda como o Estado se torna poderoso e a diminuição da poligamia. Assevera  acerca da segregação dos sexos e a declinação dos trabalhos femininos; com isso, cada mulher luta por si numa sociedade competitiva em que se tem no marido o melhor provedor. Aborda  histórias  sociais  que serviram de arcabouço para  sociedades em períodos posteriores.

Palavras-chave: mulher, sociedade,  família, segregação.

 

1 SOCIEDADES PASTORIS

A sociedade  pastoril  por oferecer melhores condições de sobrevivência, são maiores do que as de caça ou coleta, todavia mais sujeitas às guerras. Seus sistemas sócio-políticos são centralizados e hierarquizados. Seus valores não são generosidade e distribuição de alimentos, entretanto o aumento do rebanho, pensar no futuro e deixar bens para os filhos (MURARO, 2000).

No que concerne à divisão sexual do trabalho, é baseada na supremacia masculina e produção. Martin e Foorbies estudaram  quarenta sociedades pastoralistas  e concluíram que a participação feminina  na economia é mínima. É  fraca a dicotomia entre o público e o privado. Tal sociedade não pode prescindir do trabalho econômico da mulher, sendo assim, a mulher não fica completamente segregada em casa.

Nesta sociedade as famílias são patricêntricas e, os homens controlam os rebanhos. Todavia, nas sociedades em que é necessário o trabalho  feminino, esta tem mais status e poder de decisão.

Muraro (2000, p.67) afirma:

Um dos povos nômades-pastoris que sobrevivem até hoje, são  os beduínos do norte da África. Vivem num espaço desértico hostil, as populações e os  rebanhos são distribuídos de maneira mais adaptada em termos ecológicos, ou seja, através do roubo de carneiros, de camelos, dos dotes dados às noivas, das multas por assassinatos etc., de modo que os rebanhos não possam acumular-se demais em  poucas  mãos, devido às condições hostis do ambiente.

Ideologicamente, as mulheres são consideradas perigosas, traidoras e desestabilizadoras da unidade e da solidariedade dos machos. Quando há combinação do pastoreio com a  horticultura,  há a poliginia, cada mulher adicional traz um aporte de riquezas; quando o pastoralismo é acoplado à agricultura, predomina  a família nuclear, pois a mulher não traz riquezas adicionais e o trabalho dos campos é feito pelos homens.

2  SOCIEDADES AGRÁRIAS

A pressão sobre as sociedades mais primitivas cresceu e diminuiu a capacidade produtiva de suas tecnologias e de seu meio ambiente. Muraro (2000) salienta que as comunidades foram obrigadas a procurar novas formas de relacionamentos e soluções para a escassez de terra e provisões. Sendo assim, passam de nômades a sedentários. Com isso, surge a agricultura que utiliza o arado, domesticam-se animais e utilizam também técnicas de fertilização do solo e irrigação. Assim, surgem as primeiras aldeias, cidades, cidades-estado.

À medida em que o Estado se torna mais poderoso, decresce o poder da família e do sistema de parentesco.  As famílias extensas  se dividem em famílias menores. A produtividade das mulheres declina, diminui assim a poliginia. Os casamentos são feitos por interesses de alianças. Era através do casamento que a mulher adquiria status. A mulher necessariamente teria de ser frígida e não ter laços emocionais com o marido.  A socialização é altamente segregadora dos sexos. Às meninas eram ensinadas a arte doméstica e as de manipulação dos homens; aos meninos, as profissões de seus pais, a iniciativa e a coragem.

Assim, declinam os trabalhos femininos e, com esse declínio decresce a solidariedade entre elas, cada uma luta por si, competindo com as outras pelo melhor provedor como marido.

Alguns casos como Egito, Grécia, Roma, as sociedades européias, e, também, as  que continuam neste estágio agrário ainda no século XX, tais quais, a Índia, a China e o Brasil, especificar-se-á  a seguir.

2.1 Egito

O Egito já era uma velha civilização dois mil anos antes de Cristo. A cultura e a civilização egípcias eram matricêntricas e matrilineares. As máximas de Ptah-Hotep (3200 a.C.), ordenavam que os homens obedecessem às suas mulheres. No primeiro século antes de Cristo  Diodorus Ciculus, romano em viagem ao Egito, escreveu que os homens obedeciam as mulheres e que isso levava aos mais felizes arranjos.

Piletti (1988) afirma que nos primeiros tempos, o trono passava matrilinearmente; os túmulos mais antigos mostram igualdade entre homens e mulheres. Havia grandes sacerdotisas, negociantes e guerreiras.

Ahotep – 1554 a.C., rechaçou a invasão dos hicsos. Todavia, com o passar do tempo, a condição   da mulher foi declinando.

A família real era irmão e irmã que reinavam juntos. Tal costume durou até o primeiro século antes de Cristo, quando Cleópatra, esposa de seu irmão Ptolomeu, ameaçou a hegemonia do Império Romano. Sir William Tarn, escreveu: “Roma, que nunca condescendeu em temer nenhuma nação ou povo, em toda sua história só temeu duas pessoas: uma foi Aníbal, e a segunda foi uma mulher.”

Cleópatra não usou sua beleza para seduzir os donos do mundo e obter poder absoluto, todavia foi uma guerreira. Segundo Muraro (2000), ela defendeu seu país com a própria vida. Os romanos só conseguiram dominar o Egito após a sua morte.

2.2 Grécia

A cultura e a civilização grega sofreram  forte influência da cultura e civilização cretense minóica; sendo matrilinear e matrilocal. Piletti (1988), diz que afrescos  retratam mulheres dirigindo navios, praticando o comércio, plantando, exercendo o sacerdócio etc.

A figura de Helena de Tróia, a rainha adúltera que provocou a guerra de Tróia  teve sua imagem deturpada como Cleópatra.  Helena, nada mais era que uma mulher que transgrediu os padrões de sua época, foi capaz de viver plenamente seu corpo e sua sexualidade Muraro (2000). Por isso foi considerada uma das mulheres mais perigosas de todos os tempos.

Muraro (2000), o período arcaico (oitavo ao sexto século antes de Cristo), foi de grandes lutas entre os senhores da terra.  O caráter guerreiro dos homens e o das mulheres como o de produtoras de guerreiros   enfatizam os papéis sexuais. A esfera doméstica era separada da esfera pública. As mulheres eram usadas para solidificar alianças entre as famílias mais poderosas. Em Atenas, as mulheres casadas eram  atadas à esfera doméstica . As mulheres pobres e as escravas eram as únicas que podiam sair às ruas fora dos ritos sagrados e dos funerais; única ocasião em que a mulher podia sair de casa.

Em  Esparta, a posição da mulher era diferente. As meninas eram educadas junto com os meninos em atividades guerreiras. A sociedade espartana era altamente militarista; os homens ficavam muito tempo ausentes e as mulheres tinham autonomia, embora não possuísse os mesmos direitos  políticos que os homens nem fosse por eles consideradas iguais.

À  medida em que a história grega foi evoluindo, a Grécia sai do período arcaico e inicia a era clássica.  Com essa evolução, a condição da mulher  se torna cada vez pior. No século VI a.C., Sólon, com o Código de Leis, fragiliza a condição feminina, a propriedade do marido era absoluta, indo ao extremo do pai ter o poder de vender sua filha como escrava ou prostituta caso ela perdesse a virgindade, mesmo que ocorresse estupro.

Aristóteles considerava normal a inferioridade da mulher em relação ao homem, e até o século XIX pensava-se que o útero feminino fosse apenas um local vazio e  que  para gerar um ser precisaria apenas do sêmen masculino para gerar uma vida. E mais, o feto masculino adquiria alma aos quarenta dias e o feto feminino aos oitenta dias. Em 1827, descobre-se o processo de ovulação; começa-se a questionar o pensamento “científico” de Platão e Aristóteles;  as idéias tradicionais sobre o sexo feminino  são  debatidas.

2.3    Roma

Muraro (2000, p. 93) afirma:

Assim como se crê que historicamente a civilização grega tenha derivado de culturas matricêntricas tais como a de Creta, também se pensa que os etruscos, de quem se originaram os romanos, eram matrilineares e matrilocais. Suas  mulheres eram sexualmente livres: belas, atléticas e boas bebedoras. Educavam filhos e filhas de maneira igual. Nas raras inscrições deixadas pelos etruscos, muitas vezes se relembra os nomes das mães e não os dos pais mortos. No entanto, o que  quer que tenha acontecido, os romanos, povo que sucedeu aos etruscos, desde o início,  possuem documentos descrevendo-os como pomposos, solenes e rigidamente honestos, qualidade que mascarava a sua agressividade mais profunda.

Nos primeiros tempos, Roma foi uma monarquia e,  depois república, governada apenas por homens livres, os senhores de terras. Em 25 a.C. tornou-se um império; nunca foi governada por uma mulher, e não se  tem memória de uma deusa-mãe originária.

Muraro (2000) diz que a mulher, como indivíduo, não era reconhecida. Se o pai tivesse o nome  de Júlio, sua filha se  chamaria Júlia. Caso houvesse outra filha, eram conhecidas por Júlia mais velha e Júlia mais nova. Os filhos homens possuíam nomes individuais . Todo o sistema romano foi construído para mostrar que as  mulheres não eram importantes, eram  parcelas anônimas de famílias maiores.

No início do esplendor e da decadência do Império Romano, o casamento e a família entre as classes dominantes  desestabilizaram. O divórcio tornou-se trivial, todavia as leis do divórcio continuavam  severas para as mulheres, nominalmente.  O concubinato era comum principalmente para os homens. Messalina, mulher do Imperador Cláudio, considerada uma das mulheres mais devassas da história, todas as noites ia ter-se com os trabalhadores manuais no bairro Suburra. Foi morta por seu marido não por causa da prostituição e, sim, por ter ousado amar outro homem.

Todas as transformações pelas quais passaram o sexo feminino pouco tocaram a condição milenar de homens e mulheres pobres. Tradicionalmente as mulheres sempre trabalhavam nos campos, e sempre trabalhavam mais que os homens, ganhando menos e obtendo menos privilégios e direitos legais. Embora as mulheres fossem o esteio sobre o qual repousava a sociedade inteira, elas eram invisíveis.

Profª. Drª. Anna Cecília Teixeira
Diretora do Colégio Americano Vitória.
Gestora Pedagógica do Americano Sistema de Ensino do ES.
Profª. Da Rede Doctum de Ensino