A MULHER E A MÃE NATUREZA -3/6- 15/05/2012

RESUMO

Contempla reflexões acerca do homem em sua evolução alinhavando a mulher como  cuidadora de sua prole num passado distante. Assevera sobre a independência feminina nos primórdios e a relação entre machos e fêmeas. Dialoga sobre  relevância da mulher no que tange ao  desenvolvimento da tecnologia no período da pedra lascada, em objetos  que permitiam descascar, pulverizar, despedaçar frutos, ou seja, a criação do primeiro processador de alimentos;  confecciona cestos para transportar alimentos e, com isso,  facilita os deslocamentos  dos grupos  de locais em que os alimentos estavam escassos. Aborda  a descoberta do fogo como passo vital para a qualidade de vida das pessoas, tanto na alimentação quanto à permanência por mais tempo num mesmo local.

Palavras-chave: mulher, inteligência, modelo, talento.

Provavelmente  os primeiros hominídeos foram semelhantes aos seus primos antropóides, como os gorilas e os chipanzés. Fortes, atarracados, de braços longos e pernas mais curtas, mas já não quadrúpedes e, sim, eretos. De alguma forma, segundo Muraro (2000), os hominídeos eram os enteados da mãe natureza. Mais fracos que os outros macacos que tinham velocidade e sabiam como saltar de árvore em árvore. Eram os marginais dos antropóides, para sobreviver, foram obrigados a desenvolver talentos  diferentes dos mais fortes de suas tribos. Assim, os homens das cavernas (hominídeos) sobrevivem. Eles eram altruístas, e as mães passavam a maior parte de suas vidas alimentando, cuidando e educando seus filhos.

Para a sobrevivência da espécie, as fêmeas sabiam cuidar das crianças e os membros de ambos os sexos repartiam os  frutos da coleta ou da caça, tal como acontece com os pigmeus e bosquímanos hoje em dia, que são as sociedades mais próximas desse passado tão distante.

Consoante Rosi Marie Muraro (2000, p. 23):

Ao contrário do que pensavam Lévi-Strauss e Freud (horda primitiva), o núcleo das primeiras sociedades humanas deve ter sido um conjunto de mães com seus filhos, acompanhadas de outras mães, seus irmãos e outros machos que se agregassem ao grupo.  Para Lévi-Strauss, desde o início da espécie as mulheres eram trocadas pelos homens entre si, na busca de mais alimento, mais território, ou, melhor segurança. Não era o homem o elemento fixo e, sim, a mulher. Como provou Meillassoux, quem circulava era o homem.

Segundo  Muraro (2000), o estudo dos dentes caninos dos primeiros fósseis humanos revela detalhes sobre tamanho, alimentação e modo de vida desses seres primitivos.  Os sexos não eram dimórficos, homens e mulheres tinham tamanhos semelhantes. A relação deveria ser amistosa e gentil desde a infância.

Muraro (2000) levanta a hipótese de que as primeiras mulheres eram  economicamente independentes, devido a sua  centralidade, só entravam em contato com machos que fossem cooperadores, e não violentos ou competitivos. Que compartilhassem com elas o alimento e não as coagissem nem  aos recém-nascidos.

Nancy Tanner (1981) em seu livro On Becoming Human,  levanta uma hipótese muito interessante  sobre a invenção e o uso de instrumentos que diferencia  a espécie humana das outras espécies animais. As mulheres eram as responsáveis pela coleta e distribuição de alimentos, sendo assim, podem ter sido elas as primeiras a desenvolverem a tecnologia da pedra lascada, que permitia descascar, pulverizar, despedaçar frutos, ou seja, o primeiro processador de alimentos.

Pode ter ocorrido o mesmo com a invenção e a fabricação de cestos ou qualquer recipiente para transportar ou carregar frutos coletados. Tal fato foi de suma relevância para a espécie humana, pois permitiu aos grupos deslocar-se de lugares onde o  alimento estava escasso.

Cada avanço tecnológico refletia em mudanças corporais. O passo seguinte foi a descoberta do fogo. O mesmo permitia a cocção de alimentos e a iluminação de cavernas. Propiciava também afugentar insetos, répteis, tornando-as assim aptas para a moradia  humana.

Conforme Muraro (2000, p. 26):

A caça marcou uma profunda reviravolta na condição humana. Alguns pensadores chegam a colocar como conseqüência da caça a diminuição do status da mulher na maioria das sociedades primitivas. A caça mudou a relação da mulher com a natureza, com os outros animais e,  entre os sexos. Aí, se iniciam as relações de competição e violência.

Cada desenvolvimento técnico, a invenção dos instrumentos, o controle do fogo, a invenção dos cestos, o começo do período da caça e depois a invenção da  roda iam separando cada vez mais os humanos primitivos da natureza e de suas origens animais. Da imersão da natureza os humanóides passavam a uma posição de domínio e controle sobre o meio ambiente Muraro (2000).

Faltava apenas um degrau para ser ultrapassado ruma à plena humanidade, qual seja: a capacidade de abstração que daria origem à fala.

Dialogando com  Nancy Tanner (1981) o período que se discute contempla de quatro milhões de anos atrás até cerca de cem a trinta mil anos, tal período  parece ter sido  pacífico e harmonioso. Não há vestígios de utilização de armas que fossem empregadas pelos humanos, nem sinais de grupos exterminados por outros de sua espécie. As primeiras formas de humanidade, em vez de serem selvagens e cruéis, hordas de machos rebeldes e violentos, que trocavam as mulheres entre si como mercadorias, não passam de fruto do imaginário patriarcal. Esse tipo de sociedade primitiva provavelmente  nunca existiu.

Segundo Muraro (2000, p. 27):

Os coletores-caçadores parecem ter vivido em sociedades fluidas, harmoniosas e igualitárias. Não que não possuíssem agressividade nem tivessem experimentado conflito. Mas desenvolveram, certamente, mais capacidade de cooperação do que competição. Uma sociedade que precisava basicamente proteger a vida dos recém-nascidos e da cooperação na divisão de alimentos não teria sobrevivido na intensa agressividade em que a imaginação do homem do século XXI os concebe. Esta glória da dominação extrema do homem e do autoritarismo foi deixada pra mais tarde; para o Homo sapiens e para a futura civilização.

 

Profª. Drª. Anna Cecília Teixeira
Doutora em Ciências da Educação.
Profª. Faculdade Novo Milênio.
Profª Rede Doctum de Ensino.